Mobilidade
VARIEDADES

Diálogo entre real e terror para representar o mundo atual

02 Mai 2019 - 08h13Por Luiz Zanin Oricchio

A Sombra do Pai, de Gabriela Amaral Almeida, é exemplo da tendência atual de fundir o gênero terror a questões sociais. São filmes como Nó do Diabo (vários autores), Trabalhar Cansa, da dupla Julia Rojas & Marco Dutra, e Animal Cordial, da própria Gabriela. Há um dado geracional nessa opção, mas também uma questão política, que tem a ver com o estado do mundo, de modo geral, e do Brasil, em particular.

Neste caso, outras questões se agregam - e de maneira a adensar o conjunto. A história é a do contato da menina Dalva (Nina Medeiros) com a morte. A mãe morreu jovem, a garota mora com o pai, Jorge (Júlio Machado) e a tia, Cristina (Luciana Paes).

Jorge vive atormentado pela morte da mulher - é um materialista sem transcendência, que só encontra angústia e escuridão pelo caminho. Uma das cenas mais incômodas é a exumação do corpo da mulher para que os ossos sejam trasladados de local.

Por outro lado, a tia e a sobrinha são cúmplices em um mundo no qual a magia e, talvez, a vida após a morte, tenham lugar. Neste mundo, é tão natural que um casamento possa se realizar sob os auspícios de Santo Antonio quanto uma morta regressar aos seus. Desde que haja desejo suficiente para que isso aconteça.

A estratégia de Gabriela é colocar essas duas concepções do mundo em fricção - o materialismo desesperado do pai, o espiritualismo igualmente angustiado da tia e da sobrinha. Ambos são baseados na dor, mas o primeiro é a dor do desespero e o segundo, a da esperança.

Há também outra vertente que se insinua na trama, que é a do mundo laboral. Jorge é trabalhador da construção civil. Vive na dureza e no perigo. Um amigo foi despedido e morreu. Acidente? Matou-se? Não se sabe. O ambiente de trabalho de Jorge não é apenas um cenário ocasional; é tão presente que se torna outro personagem desse drama sobre o luto não realizado.

Entre o manifesto materialismo de Jorge e o espiritualismo um tanto selvagem da menina (e também da tia), a cineasta sutilmente se encaminha para um clima de fantástico. É sempre um risco realizar essa travessia entre o realismo e a dimensão imaginária. As doses são cumulativas e dependem de um exercício controlado da textura cinematográfica e de uma trilha sonora colocada com parcimônia e, por isso mesmo, bastante eficácia.

Talvez o longa produza alguns arrepios, especialmente em sua fase final. Mas não é o que tem de mais importante nem mais forte. Sua qualidade maior é provocar uma sensação de mal-estar generalizado e crescente, que sobe à medida que as frustrações da vida e o inconformismo com a morte se desenham melhor.

Nesse sentido, e como retrato dessa pequena burguesia periférica, sem muita perspectiva nem de vida nem de fé, A Sombra do Pai revela o acerto da diretora ao trabalhar na simbiose de gêneros. Afinal, a vida por aqui não se parece mesmo a um filme de terror? As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Matérias Relacionadas

Geral

Festival Gastronômico da Jovem Pan começa neste sábado (12) em Jaraguá do Sul

São diversas opções que você pode experimentar até o dia 27 de outubro
Festival Gastronômico da Jovem Pan começa neste sábado (12) em Jaraguá do Sul
Geral

Despedida de Ary Toledo acontece neste sábado

Humorista morreu no período da manhã, no Hospital Sírio Libanês, onde estava internado com pneumonia
Despedida de Ary Toledo acontece neste sábado
Geral

Lez a Lez leiloa obras criadas por artistas da têxtil Lunelli em prol do Outubro Rosa

Valor angariado na iniciativa será destinado às Redes Femininas de Combate ao Câncer das cidades de Jaraguá do Sul e Guaramirim
Lez a Lez leiloa obras criadas por artistas da têxtil Lunelli em prol do Outubro Rosa
Geral

Boteco Belo Vale traz a Jaraguá do Sul o cantor mais Amado do Brasil

Amado Batista está prestes a completar 50 anos de carreira e vem comemorar com os fãs de Santa Catarina
Boteco Belo Vale traz a Jaraguá do Sul o cantor mais Amado do Brasil
Ver mais de Variedades