Dicas

Dicas 31/08/15

02 Set 2015 - 10h28
COMO SE ESCREVEM OS NOMES PRÓPRIOS?
Vamos começar pelas autoridades. Celso Luft, em seu Novo Guia Ortográfico, cita Artur de Almeira Torres e Zélio dos Santos Jota, que escreveram o Vocabulário Ortográfico de Nomes Próprios. Vamos examinar com atenção:
"Nomes e sobrenomes estão sujeitos às mesmas regras ortográficas vigentes para os nomes comuns e dentro dessas normas devem ser registrados os nascidos na vigência do acordo ortográfico.
É preciso que se diga, no entanto, que somente em assinatura a pessoa pode (não se obriga, portanto) manter a grafia constante da certidão. Assim, um cidadão registrado Raphael Assumpção de Souza terá seu nome representado por Rafael Assunção de Sousa em qualquer circunstância. Em assinatura, porém, se desejar, continuará a assinar daqueloutro modo.
Não redundará confusão ou perda de direitos assinar-se, o citado cidadão, Rafael Assunção de Sousa? Absolutamente. Pode acarretar aborrecimento tão-somente por falta de compreensão alheia. Afinal de contas, o que de fato individualiza o cidadão não há de ser apenas seu nome, mas uma série de características, constantes em documentos oficiais, como filiação data de nascimento, (...)
Então, com o perdão da Jeniffer, ou Jennifer, ou seja lá como for, mas vocês, meninas, são equívocos ortográficos. Erro que será levado, literalmente, ao túmulo.
Bebetinho, na Copa de 94, comemorou um gol homenageando seu filho recém-nascido: Mattheus era o nome da vítima. Em primeiro lugar, o pobre garoto terá de passar o resto da vida explicando como se escreve o nome.
O que há de errado com Mateus? É muito simples, não é mesmo? O brasileiro tem mania de criar o seu sistema lingüístico. Onde há lei, nós fugimos dela. Afinal, pô, eu sou dono do meu nome. É verdade, mas o nome deve ser grafado em alguma língua, e, cá no Brasil, fala-se o Português. Pois, pois ...
A famosa Diana sempre foi simplesmente Diana para os espanhóis e para os portugueses. No Brasil, pronunciamos "Daiana".
Vivemos para importar, de carros a cigarros, de palavras à música. Faz parte da nossa natureza.

 

COMO SE ESCREVE O NOME DE PESSOAS QUE JÁ MORRERAM?
Vinicius de Moraes foi um dos maiores poetas brasileiros.
Uma vez morto, a pessoa terá seu nome grafado segundo a ortografia em vigor.
Polêmico, mas verdadeiro, Vinicius de Moraes virou Vinícius de Morais.
Raphael vira Rafael, Luiz-Luís, Antonio-Antônio, Suely-Sueli, Ruth-Rute, etc.
Nomes, sobrenomes e apelidos estrangeiros mantém a grafia original.
Para que você não precise ouvir Bitovem, João Lenom ou Curte Cobaim!

 

CORNO
Você sabe a razão de o homem traído pela mulher ser chamado de corno? Somente agora deixamos o apedeutismo (que ou o que não tem instrução; ignorante, apedeuta) no assunto, graças a pesquisas por no campo jurídico.
Em plena República, a vida legal do Brasil ainda era regida pelas Ordenações do Reino e por atos emaranhados e esparsos, até mesmo contraditórios.
Continuavam vigendo algumas normas do Livro das Ordenações, funcionando como Direito Penal, substantivo e adjetivo. Em um de seus cânones permitia ao marido matar a mulher apanhada em adultério. 0 homem vestido de mulher ou a mulher vestida com trajes masculinos seriam seviciados publicamente.
Agora, a descoberta: dita legislação ordenava fosse cingida por um par de cornos (chifre) a testa do marido cuja mulher infiel recebesse dele o perdão.
Desse tempo vem o qualificativo de corno ao marido cuja mulher prevarica. Ambos ficavam passíveis da pena de degradação.

 

Impecilho ou empecilho? Vejo as duas formas. Qual a correta?
Impecilho, com i, não existe. A forma nota 10 é empecilho.

 

Expiar ou espiar
Olho vivo, moçada. O garoto curioso espia pela fechadura da porta o banho da irmã. A mãe vê. Contrariada, castiga-o. Recolhe o celular por três dias. “Por quê?”, pergunta ele choroso. Porque você deve expiar o erro.
É isso. Espiar é observar secretamente. Daí espião, espionar, espionagem. Expiar, pagar erros cometidos. Expiação, expiatório, expiável pertencem à mesma família.

Ouvi dizer que pequeno detalhe é pleonasmo? Achei estranho. Será?
Há pleonasmos e pleonasmos. Alguns estão na cara. É o caso de subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, sair pra fora . Outros não parecem, mas são. Um deles: panorama geral . Todo panorama é geral. Basta panorama . Outro: pequeno detalhe . Todo detalhe é pequeno. Basta detalhe . Mais um: planos para o futuro . Todo plano é para o futuro. Basta planos . Outros: elo de ligação, país do mundo, ainda continua, manter a mesma . Elo, país, continua e manter dão o recado no tamanho certo — sem mais nem menos.

 

Agradecer
Seja grato. Agradeça. Mas agradeça com elegância. O verbo pede objeto direto de coisa e indireto de pessoa. Assim: Agradeceu o presente. Agradeceu ao pai. Agradeceu o presente ao pai. Agradeço ao diretor pela promoção.
Na substituição do alguém pelo pronome, é a vez do lhe : Agradeço-lhe pela colaboração. Agradeço-lhe a atenção. Agradeci-lhe os cuidados com as crianças.

 

Afirme, não ache
Acho que? Eu, particularmente, acho que? Com o tal achar, o enunciado fica fraco, inconvincente. Em vez de “Acho que a inflação vai baixar”, basta “A inflação vai baixar”. Mais: o particularmente , que costuma acompanhar o verbo molengão, também sobra. (Eu, particularmente, acho que) a inflação vai baixar.

 

CUSTEI A CRER NO QUE OUVIA.
A forma correta é custei crer, e não custei a crer.
Custei crer no que ouvia.
Por um sincretismo sintático, pode-se também expressar ...
Custou-me crer no que ouvia.

 

MÁRCIO COMEU SOZINHO UM DOZE AVOS DO BOLO.
A palavra avo, que só deve ser usada com denominadores acima de dez, combina com o numerador. Assim:
Márcio comeu sozinho um doze avo do bolo.
Márcio comeu sozinho cinco doze avos do bolo.

 

A ATMOSFERA ESTAVA IMPREGNADA POR ESTRANHO PERFUME.
Todos olharam Márcio. Impregnada de alguma coisa, não por alguma coisa:
A atmosfera estava impregnada de estranho perfume. Todos olharam Márcio.

 

O FALAR DO NORTE É DIFERENTE DO FALAR DO SUL.
Os nomes dos pontos cardeais são grafados com inicial maiúscula quando se referem a regiões.
São grafados com inicial minúscula quando se referem a indicam direção ou limite geográfico.
O falar do Norte pode ser diferente do falar do Sul, mas na hora de escrever:
De norte a sul usamos a Língua Portuguesa.

 

SOU REDATOR. COM FREQUÊNCIA, TENHO DE REDIGIR OFÍCIOS. HÁ POUCO, UMA DÚVIDA ME ASSALTOU. TRATA-SE DO EMPREGO DO VOS. QUAL DAS DUAS SENTENÇAS ESTÁ CERTA?
A. AO CUMPRIMENTAR V.Sª, SOLICITO-VOS ...
B. AO CUMPRIMENTAR V.Sª, SOLICITO-LHE ...
Os pronomes de tratamento têm uma paixão. É a 3ª pessoa. Com eles não há conversa. Verbos e pronomes que lhes fazem companhia têm de ser da 3ª pessoa: V.Sª visitou seus amigos? V.Exª saiu-se muito bem no discurso. Ao cumprimentar V.Sª, solicito-lhe ...
Conselho a gente vende. Não dá. Mas lá vai um de graça. Apague o vos da redação oficial. Ele só tem vez quando se usa o tratamento vós. E, cá entre nós, o vós é mais antigo que as pirâmides do Egito.

 

MAU CONSELHEIRO
Rubén González andava doente. Sofria de artrite. Como desgraça pouca é bobagem, tinha complicações respiratórias. Há um ano, entrou no hospital. Lá, o pianista do Buena Vista Social Club entregou a alma a Deus.
O Bom-Dia, Brasil, de ontem deu a notícia. Márcio Gomes anunciou:
— O artista estava internado há um ano.
Emocionado, o apresentador deu uma dentro e uma fora. Acertou ao empregar o haver na contagem de tempo passado. Bobeou ao ignorar a correlação verbal. Presente pede presente; imperfeito, imperfeito:
O artista está internado há um ano.
O artista estava internado havia um ano.
Moral da história: o coração é mau conselheiro.

 

MÁRCIO ANDOU TANTO DE MONTANHA-RUSSA QUE FICOU COM ÂNSIA.
Quem fica com náuseas, fica com ânsias, sempre no plural.
Márcio andou tanto de montanha-russa que ficou com ânsias.

 

MATEUS ESTUFOU O PEITO E COMEÇOU A CONTAR VANTAGENS.
Asneiras, certamente. O verbo que significa encher é estofar.
Estufar é outra coisa: aquecer com estufa.
Mateus estofou o peito e começou a contar vantagens.

 

BRASILEIROS E BRASILEIRAS! MEUS AMIGOS E MINHAS AMIGAS. AQUI ESTOU.
Existe um brocardo (sentença, máxima, aforismo, provérbio, aximoma jurídico) que diz: "pronuntiatio sermonis in sexu masculino, ad utrumque sexum plerunque porrigitur" ou seja, "enunciado um preceito no masculino, estende-se, as mais das vezes, a um e outro sexo".
"Pais" são o pai e a mãe. "Homens" é usado no sentido de "humanidade".
Nosso cadastro de leitores é atualizado diariamente.

 

FACE A
A clandestina não existe em português. Chegou aqui de contrabando. Devolva-a à terrinha dela. E abrace a portuguesinha da silva. É a charmosa em face de: Em face do exposto, solicito as providências cabíveis. Em face das rebeliões, a direção cancelou as visitas nos presídios.

 

FAZER ERRO, FAZER ESPORTE.
Fazer no sentido de cometer ou praticar não é coisa nossa. Na língua de Camões, a gente comete erro, comete falta, pratica futebol, pratica vôlei, pratica natação.

 

ESTÁTUA EM BRONZE, VESTIDO EM SEDA.
A preposição denuncia a nacionalidade. Os parisienses usam em para indicar o material de que alguma coisa é feita. Nós ficamos com de. Por isso apreciamos as estátuas de bronze, as joias de ouro, as escadas de mármore, as mesas de madeira, os vestidos de seda, os lençóis de cetim.

 

TENHO VISTO AQUI E ALI OS FEMININOS GERENTA, PRESIDENTA, OFICIALA. ELES EXISTEM? OU SE TRATA DE HISTERIA FEMINISTA?
Meu amigo, ponha as barbas de molho. Elas vieram para ficar. E se espalhar. Invadiram as universidades. Roubaram os empregos. Exigiram visibilidade. Autoritárias, as mulheres batem pé e impõem a forma feminina. Ele é gerente. Ela, gerenta. Ele é presidente. Ela, presidenta. Ele é oficial. Ela, oficiala. Ele é chefe. Ela, chefa.
Atenção, gente rigorosa. A palavra gerenta não está dicionarizada. Mas chega lá. É questão de tempo. Quem viver verá.

 

MÁRCIO CHOROU. CHOROU, AO PONTO DE DESMAIAR.
Não existe locução ao ponto de, mas apenas a ponto de.
O uso de ao ponto estará certo se ponto for um simples substantivo de emprego relativo.
Assim:
Márcio chorou. Chorou, a ponto de desmaiar.

 

OS LÁPIS CUSTAM DOIS REAIS CADA.
Não se usa o pronome "cada" isoladamente.
Deve vir acompanhado sempre de um substantivo ou de outro pronome.
Assim: "Os lápis custam dois reais cada um (ou cada qual)."
"O pão nosso de cada dia."
"Cada macaco em seu galho."

 

MÁRCIO NUNCA FAZIA O DEVER ESCOLAR, POR ISSO NÃO VAI GANHAR PRESENTES DE ANIVERSÁRIO.
Deveres escolares devem ser sempre usados no plural, pois são sinônimos de tarefas escolares.
Márcio nunca fazia os deveres escolares, por isso não vai ganhar presentes de aniversário.