transito
INTERNACIONAL

Turco acusado de terrorismo é solto e diz 'confiar na Justiça'

08 Mai 2019 - 18h51

O turco naturalizado brasileiro Ali Sipahi deixou nesta quarta-feira, 8, por volta de 12h41, a sede da Justiça Federal em São Paulo. Ele estava preso desde o dia 5 de abril na Polícia Federal na capital paulista, acusado de terrorismo pelo governo turco. Na saída, Sipahi disse que quer voltar à vida normal, que é um cidadão normal e que acredita na Justiça brasileira. "Sou uma pessoa normal, sou empresário que tem restaurantes, quero seguir a minha vida normal. Quero continuar vivendo normal no Brasil como brasileiro naturalizado. Brasil é um país que tem Justiça, acredito na Justiça Brasileira. Continuo confiando na Justiça brasileira, e acho que vai dar certo", afirmou.

Na manhã desta quarta-feira, Sipahi foi levado da sede da Polícia Federal, na Lapa, em São Paulo, para o prédio da Justiça Federal, onde colocou a tornozeleira eletrônica e entregou seu passaporte. Ele não poderá sair de São Paulo sem autorização judicial e terá de cumprir recolhimento domiciliar noturno.

Na terça-feira, 7, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, revogou a prisão do empresário turco. No despacho de sua decisão, o ministro determina que a prisão preventiva seja substituída pela "instalação de equipamento pessoal de monitoração eletrônica", apreensão do passaporte, proibição de sair da cidade onde mora até o julgamento do pedido de extradição, recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folgas.

Ali é ligado à organização turca Hizmet, considerada um grupo terrorista pelo governo do presidente Recep Tayyip Erdogan. A entidade, que não é considerada um risco fora da Turquia, é liderada pelo clérigo muçulmano moderado Fethullah Gülen. Ele vive nos EUA e conta com a proteção do governo americano.

Segundo Fachin, o pedido foi aceito "considerando os elementos pessoais que ligam o extraditando ao Brasil, a residência em território brasileiro desde 2007, a nacionalidade brasileira desde 2016, suas atividades empresariais e a inexistência de antecedentes criminais e ainda a necessidade de manter sua família, mulher e filho que vivem sob sua dependência".

A decisão de Fachin foi contrária ao parecer da Procuradoria Geral da República. No texto da PGR, Luciano Mariz Maia, vice Procurador-Geral da República, afirma que "as circunstâncias do caso, no entanto, não indicam situação de excepcionalidade apta a ensejar a revogação da custódia cautelar. "Embora o extraditando tenha residência fixa no Brasil e trabalho lícito, certo é que este fato não é hábil, por si só, a afastar a medida contra ele imposta (...) já que tem por finalidade precípua a entrega do requerido à autoridade estrangeira"

Na sexta-feira, 3, Sipahi foi ouvido na Justiça Federal em São Paulo. O governo da Turquia pediu ao Brasil a extradição de Sipahi. Ele é acusado pelo presidente da Turquia, Recep Erdogan, de fazer transações financeiras em um banco do grupo Hizmet, de oposição ao líder turco, ligado ao clérigo Fethullah Gülen.

Na ocasião, a linha apresentada pela defesa, segundo o porta-voz do Hizmet Kamil Ergin, teve como base contestar a versão do governo turco de que o Hizmet é um grupo terrorista. Segundo ele, apenas países de maioria muçulmana com relações comerciais próximas com a Turquia, como a Somália e o Marrocos, aceitaram extraditar militantes do grupo. "É a primeira vez que um pedido desse chega ao Brasil, mas quando pedidos similares foram feitos em países democráticos como os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e Reino Unido, a Justiça desses países negou todos eles."

Sipahi tem 31 anos e mora no Brasil desde 2007. Naturalizado brasileiro, tem um filho nascido no País e é dono de dois restaurantes em São Paulo. Sipahi é acusado pela Procuradoria de Ancara de ser membro da organização do clérigo por ter conduzido atividades no Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) e na Câmara de Comércio e Indústria Turco-Brasileira (CCITB), entidades que têm vínculos com o Hizmet e recebem verba do grupo.

O Hizmet, que significa "servir" em turco, foi considerado uma organização terrorista em 2016, após Erdogan acusar o movimento de tramar o golpe de Estadoque tentou tirá-lo do poder. Em julho daquele ano, as Forças Armadas colocaram tanques nas ruas para tentar derrubar Erdogan, que conseguiu reverter o movimento.

O movimento de Gülen foi essencial para a ascensão de Erdogan e de seu Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), no início dos anos 2000, mas os dois grupos se distanciaram. De 2013 para cá, Gülen e Erdogan se tornaram inimigos.

Até 2016, a perseguição era velada, afirma o Hizmet. "Jornais foram fechados, algumas pessoas eram vigiadas e presas", afirma Kamil Ergin. Mas depois da tentativa de golpe, Erdogan classificou o Hizmet como grupo terrorista, o que permitiu ao Estado decretar prisões e perseguir os integrantes do movimento. "O governo cassou passaportes, prendeu milhares de pessoas, e os que conseguiram fugiram para não ser presos", diz Kamil.

Nenhum outro país ou organismo internacional considera o Hizmet, também chamado de Movimento Gülen, uma organização terrorista. O movimento se denomina uma iniciativa civil mundial, enraizada na tradição espiritual e humanística do Islã. Presente em 160 países, patrocina escolas, centros culturais e diversas atividades comerciais.

A Embaixada da Turquia no Brasil afirmou que não responderia a perguntas específicas sobre Sipahi "uma vez que ele está sujeito a um processo legal em andamento". Em nota, a embaixada afirma que o Hizmet é uma fachada para as "atividades da organização criminosa e terrorista FETÖ", grupo que estaria por trás da tentativa de golpe na Turquia em 15 de julho de 2016.

Em 2016, o governo turco exigiu a extradição do clérigo, que vive desde 1999 nos Estados Unidos. Em sua residência na Pensilvânia, ele nega qualquer envolvimento na tentativa de golpe. O governo americano rejeita deportar Güllen e diz que as acusações contra ele são "sem fundamento".

O governo de Ancara cita como evidência para a prisão de Sipahi depósitos feitos pelo empresário, entre 2013 e 2014, de 1.721,31 liras turcas (cerca de R$ 1.168) no Banco Asya, que Erdogan fechou em 2015 por ser ligado ao Hizmet. A Justiça turca ordenou o fechamento do banco e decretou que seus correntistas podem ser considerados membros do Hizmet e suspeitos de terrorismo.

Segundo integrantes do movimento no Brasil, o depósito foi feito em uma conta no nome do próprio Sipahi. O pedido de prisão preventiva de Sipahi estava decretado desde 19 de março pelo STF. Os advogados de Sipahi pediram para que ele aguarde o julgamento do pedido de extradição fora da prisão - com a retenção de passaporte ou tornozeleira eletrônica. A Procuradoria, no entanto, foi contrária ao pedido.

Matérias Relacionadas

Esportes

Confira o programa Arena dos Sports desta semana

O Arena dos Sports, da Rádio Jaraguá, é um programa voltado para todas as atividades esportivas, contando com informações e entrevistas com destaques de várias modalidades
Confira o programa Arena dos Sports desta semana
Saúde

Apple Vision Pro é usado em cirurgia ortopédica em Jaraguá do Sul

Confira como foi a cirurgia
Apple Vision Pro é usado em cirurgia ortopédica em Jaraguá do Sul
Esportes

Chapecoense é condenada a pagar pensão até 2049 para família de chefe de segurança morto em acidente

Tribunal Superior do Trabalho determinou ainda que mulher e filhos sejam indenizados em R$ 600 mil. Ex-funcionário estava no voo da delegação do clube que matou 71 pessoas.
Chapecoense é condenada a pagar pensão até 2049 para família de chefe de segurança morto em acidente
Segurança

Após 50 dias, Polícia Federal recaptura os dois foragidos de penitenciária federal

Eles fugiram do presídio no dia 14 de fevereiro
Após 50 dias, Polícia Federal recaptura os dois foragidos de penitenciária federal
Ver mais de Mundo