INTERNACIONAL
'Estamos voltando ao mundo de 1914', diz Rubens Ricupero
O fim da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), cujo centenário se celebra neste mês, marcou a entrada da diplomacia brasileira como protagonista no século 20. A avaliação é do diplomata Rubens Ricupero, diretor da Faculdade Armando Alvares Penteado (Faap).
Qual a importância para a diplomacia brasileira da atuação do País durante a 1ª Guerra?
O que vale a pena realçar é uma grande relação custo-benefício. O custo foi pequeno em termos militares e estratégicos. O que o Brasil recebeu em troca em termos diplomáticos e políticos foi muito grande. Participamos da Conferência de Paris com três delegados, algo destinado apenas às grandes potências da época, graças ao apoio americano e ao argumento de que o Brasil de certa maneira representava todo o continente latino-americano. De certa maneira, a primeira vez que o Brasil aparece de fato entre as grandes potências mundiais é na Conferência de Paris (em 1919). Quando a 1ª Guerra acabou, França, Inglaterra e Itália elevaram o nível da delegação que tinham no Brasil para embaixada, que, na época, apenas Estados Unidos e Argentina mantinham aqui.
Por que o Brasil não enviou um representante de primeiro escalão a Paris para as celebrações do centenário do armistício?
Não entendi a razão e achei penoso. Sendo o único país latino-americano que participou do conflito, achei estranho. Não houve uma explicação do lado brasileiro. Aparentemente foram convidados e não foram. Mandar o embaixador em Paris é pouco. Um evento desses merecia uma delegação especial.
Como a opinião pública da época viu a entrada no conflito?
Era muito favorável. Desde o início, tinha uma posição favorável sobretudo à França, que era o país das elites brasileiras. Além disso, as colônias de imigrantes eram muito grandes, sobretudo os italianos, imigrantes e descendentes. De 1,5 milhão de italianos no Brasil, cerca de 12 mil foram lutar na guerra. Em São Paulo, a colônia italiana era muito favorável à guerra. O jornal Fanfulla, o segundo maior da época, voltado para a colônia italiana, era partidário de entrar no conflito. A exceção era a colônia alemã. Em Porto Alegre, por exemplo, foram atacadas casas e lojas da colônia.
A ida do Epitácio Pessoa para a conferência de Paris em 1919 acabou tendo impacto em sua vitória na eleição presidencial daquele ano?
Foi muito curioso. Enquanto Epitácio estava em Paris, morreu o Rodrigues Alves, vítima de gripe espanhola, já eleito. E aí tiveram de escolher um novo presidente, naquela coisa típica da República Velha. E como não tinha um candidato de consenso para enfrentar o Ruy Barbosa, candidato dos paulistas, acabaram escolhendo o Epitácio, que nem voltou da França para fazer campanha. E ele acabou eleito. Voltou de Paris já eleito. Isso mostra bem como era o Brasil da República do Café com Leite.
Que lição tiramos deste centenário?
O paralelo é total. A política que vemos hoje nos EUA, Rússia e China corrói o sistema internacional criado depois da 2ª Guerra. Agora, corremos o risco de voltar à era das rivalidades dos nacionalismos, que justamente deu origem às duas grandes guerras mundiais em 1914 e 1939. Apenas a Europa ainda joga a carta do multilateralismo. O (Henry) Kissinger, que é um realista, tem advertido contra os riscos dessa tendência atual. O caso de (Donald) Trump é o mais evidente. Mas o de (Vladimir) Putin e dos chineses, com mais prudência, também. Estamos voltando ao mundo de 1914.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Matérias Relacionadas
Segurança
Joinvilense condenada por atos de 8 de janeiro é presa nos EUA
Uma mulher de Balneário Camboriú também foi detida após entrar ilegalmente no paÃs

Economia
SC exporta US$ 1,76 bilhão nos dois primeiros meses de 2025
Vendas do estado para o exterior somaram US$ 918,9 milhões em fevereiro, aumento de 7,15% frente ao mesmo mês de 2024; embarques de proteÃna animal lideram exportações

Saúde
Saúde confirma primeiro caso de nova cepa de mpox no Brasil
Mulher de 29 anos teve contato com familiar que visitou paÃs africano

Esportes
Nadadora de Jaraguá do Sul defenderá o Brasil em Mundial Escolar na Sérvia
Atleta participa do Gymnasiade sub 15
