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Baixa

Ex-combatente da Feb morre aos 90 anos

29 Dez 2012 - 12h11

Fridolino Irineu Kretzer (Acervo familiar)

Será sepultado às 17h deste sábado (29), o corpo do veterano da Força Expedicionária Brasileira, Fridolino Irineu Kretzer, de 90 anos. Ele morreu às 22h40 de sexta-feira (28), deixando enlutados filhos Errol, José Norberto, Ivo, Rubens, Sérgio Luiz e Giovana; genro, noras, 13 netos e seis bisnetos. Todos os filhos do sexo masculino serviram no Exército Brasileiro. Natural da localidade de Rio Morto, no acesso principal a Indaial, Fridolino nasceu em 28 de junho de 1922. Fridolino era um dos seis remanescentes da Força Expedicionária Brasileira aqui na região de Jaraguá do Sul.


O repórter Dias Gomes esteve no velório e conversou com o filho do ex-combatente, Ivo Kretzer.

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Fridolino serviu no Tiro de Guerra em Indaial, no início dos anos 40. Depois no 32° Batalhão de Caçadores, hoje 23° Batalhão de Infantaria de Blumenau nos anos 1943 e 44. Em 1944 foi convocado para a Segunda Guerra Mundial, partindo do 32° BC, em março, seguindo em direção à Jaraguá do Sul. Dali partiu de trem "Maria Fumaça" para Curitiba, depois para São Paulo e por fim ao Rio de Janeiro. Embarcou no Porto do Rio em 23 de novembro de 1944, no 4° Escalão da FEB, no navio de tropas americano General Meigs, chegando em Nápoles 15 dias depois, em 7 de dezembro. Exerceu na guerra a função de "estafeta" que correspondia em levar e buscar malotes nos diversos Quartéis Generais do norte da Itália. O fato marcante ocorrei na capitulação da Alemanha, ocasião que em 29 de abril de 1945, Fridolino auxiliou o comandante da FEB como intérprete diante do General alemão Otto Freter-Pico, aprisionado com seus quase 15 mil soldados da 148ª Divisão de Infantaria nazista. Confessa que viu com muita amargura a miséria do povo italiano pela guerra, suportou a baixa temperatura de -20°C, além de correr riscos diante dos inimigos que estavam as soltas naquele país.

Sua mensagem: "Que se busque a Paz pois a guerra traz a sofrimentos e a morte".

Artigo publicado no site www.portalfeb.com.br:

 

"Se me perguntarem o que eu fiz na guerra, direi que me deram uma função até perigosa, ou seja, de "estafeta" que nada mais era de correr pra lá e pra cá, a fim de selecionar, levar ou buscar todo tipo de documentos ou correspondências entre Quartéis Generais dos aliados no norte de Itália. Me deram um Jeep Willys, uma pistola e um motorista ajudante, ocasiões muitas em que revezávamos no volante. O comando sempre nos alertava que se bobeássemos, a gente, além de ficar sem a cabeça por ser cortada pelos arames que os inimigos, tanto fascistas ou nazistas armavam cruzados nas estradas e também tirariam nossa farda para usá-las nas sabotagens. O outro perigo eram as minas que poderiam estar espalhadas pelos caminhos. Havia outros riscos como em cada curva poderia vir uma bala pois nos avistávamos com facilidade. Outro problema era o frio do qual a gente nunca sentiu coisa assim. Numa missão, fui até ao Quartel do 8° Exército inglês e lá pernoitei. E ao amanhecer, o céu escureceu de tantos aviões do tipo Superfortress Boeing B-17, uns trezentos por ai que passaram baixinho sobre esse acampament, ocasião em que mostrei ao meu ajudante as bombas aparecendo nas baias dos ditos. O que mordia nosso coração era ver a miséria e a fome que os italianos passavam. No dia da rendição, me impressionava ver alguns dos prisioneiros tristes pois diziam que não sabiam mais de seus parentes e que nós brasileiros tínhamos sorte de poder voltar para casa. Outros estavam felizes e até diziam que foi melhor se render aos Pracinhas pois já sabíamos que eram gente bondosa e não os judiariam. Fato marcante comigo aconteceu no dia da rendição, pois servi de intérprete ao Comando Brasileiro para dar a versão do General Otto Fretter-Pico, da 148ª Divisão de Infantaria alemã. O tal era carrancudo e de poucas palavras. Para mim a guerra jamais deveria existir pois a brutalidade e a desgraça que presenciei, em todos os sentidos, só sente quem nessa participou. Tenho 6 filhos, dentre eles uma moça. Os moços, me orgulho disso, todos serviram o Exército Brasileiro."Que a juventude brasileira proclame sempre a Paz. Por fim, desejo que nunca alguém se atreva em apagar a memória dos Heróis da FEB nesse país pois nós não merecemos isso".

"Minha função na guerra era de organizar, levar e buscar correspondências por toda região norte da Itália, incluindo Quartéis Militares ingleses. Terminado conflito, assisti naquele dia a rendição nazista e pude até ouvir as vozes do nosso General Olympio Falconière da Cunha bem como do Comandante alemão Otto Freter Pico por eu estar a uns dois metros deles. Alguma coisa servi como intérprete naquele momento".

 

Recentemente, o filho e secretário da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira - seção de Jaraguá do Sul, Ivo Kretzer, escreveu um artigo sobre o pai na internet (Portal Feb). Leia na íntegra:

 

"Meu pai, já alcançando em Junho agora seus 90 anos, exerce em casa o expediente de Vice-Presidente da Associação da FEB daqui da região de Jaraguá do Sul. Tem grande dificuldade para se locomover sozinho. No pós- guerra, retornou ao serviço de Tecelão, numa empresa em sua terra natal (Indaial-SC)no que mais tarde passou a Gerente de Departamento. Trabalhou nessa empresa por 42 anos (foi seu único emprego). Ajudou na instalação do Monumento da FEB em Indaial. Depois que parou de trabalhar, viveu alguns tempos em Indaial e depois veio à Jaraguá do Sul, no início de 1980 e ajudou na estrutura da instalação do Monumento da FEB, bem como na questão do próprio Museu do Expedicionário que atualmente encontra-se transferido para outro local com título de Museu da Paz. O papel dele, eu como Secretário Executivo assim o represento na prática. Voltou da guerra sem nenhuma seqüela. Recebeu com muito sacrifício o benefício da Pensão pelo inícios dos anos 70.


Dos 98 Expedicionários que por essa região de Jaraguá do Sul e proximidades se instalaram desde os anos 40, temos somente seis vivos e com alto grau de dificuldade de se locomover. Dos seis, apenas três marcam presença nas solenidades. Nos desfiles cívicos vejo que eles quase não irão mais por precaução da saúde. Mas nossa Associação está bastante ativa. Digo-vos que pessoas como vocês do Portal FEB, enriquecem e enobrecem os pesquisadores pois retratas com carinho e autenticidade principalmente os fatos vividos daqueles Heróis, que de corpo e alma deixaram seus lares para defender nossa nação que se encontrava em risco diante de um idealismo na Europa e que poderia avançar nossa terra e sucumbir-nos com as hostilidades que testemunhos viram durante o conflito editado pelo adoentado psíquico Hitler.

Meu pai, Fridolino Irineu Kretzer (90 anos), Veterano da FEB, viu principalmente a tragédia emocional vivida pelo povo italiano, ante a miséria em conseqüência do conflito (...) Temos um majestoso Museu da FEB, acrescido um pouco de histórias de outras guerras, há uma Associação de Veteranos da FEB, com ainda 6 Heróis vivendo em nosso meio e estamos ativos nas solenidades com participação efetiva de amigos e associados, com um excelente apoio da Fundação Cultural de Jaraguá do Sul, nossa mantenedora. Aqui, estamos levando avante a história perpétua que foi implantada em 1976.

Temos uma diretoria constituída para dirigir a Seção Regional da FEB, núcleo este articulado aos demais poucos ainda existentes. (...) Uma coisa que causa sentimento amargo é estar contribuindo para a grandeza da cultura e nem ser lembrado, ou estar explorado pelo feito. Somos seres emocionais e sentimo-nos felizes por sermos lembrados pelos exercícios de nossos feitos, como foram nossos Heróis. Mas, o tempo dá a resposta merecida a cada um que contribui. O próprio ditado cita: "Conspira contra a sua própria grandeza o povo que não cultiva os seus feitos heróicos". Essa frase eu editei: "As vezes as amarguras deixadas pelos ditadores acabam até sendo reverenciadas enquanto os benfeitores ficam no esquecimentio". Sem alongas, lhe felicito pelo vosso trabalho digno de admiração. De quem acaba de lhe conhecer, receba as saudações Febianas..."

Colaboração: Ivo Kretzer (Secretário Executivo da ANVFEB - Jaraguá do Sul)

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