Geral

Alimentos seguros baseados em blockchain: Aumentando a segurança, a transparência e a trazabilidade

No lugar de transações financeiras, blocos armazenam dados sobre colheita, transporte, temperatura de estocagem e manipulação na cozinha.

17 Jun 2025 - 17h29Por Da Redação

- Crédito: pixabay

A mesma tecnologia das criptomoedas também pode registrar, de forma imutável, cada etapa percorrida por um alimento até chegar ao seu prato. No lugar de transações financeiras, blocos armazenam dados sobre colheita, transporte, temperatura de estocagem e manipulação na cozinha.

Cada bloco é selado com criptografia; qualquer tentativa de alteração dispara alertas a todos os participantes da rede, reduzindo fraudes e encurtando o tempo de resposta quando surge um problema sanitário. Em 30 de outubro de 2024, o Ministério da Agricultura lançou a Plataforma SDA Digital.

Ela integra inteligência artificial e blockchain para oferecer rastreabilidade em tempo real e auditorias mais rápidas tanto para o mercado interno quanto para exportação, eliminando grande parte da burocracia enfrentada por pequenos e grandes produtores. É a mesma infraestrutura que permite comprar cripto com cartão de crédito em segundos.

Graças às APIs públicas, frigoríficos, centrais de distribuição e até aplicativos de delivery podem sincronizar inventários e certificados sanitários sem depender de pilhas de papéis.

Por que o Brasil precisa de transparência

Doenças transmitidas por alimentos seguem sendo um problema de saúde pública. O Ministério da Saúde calculou que, entre 2007 e 2020, o país notificou em média 662 surtos por ano, com mais de 156 mil de pessoas afetadas e 152 óbitos anuais. Cada surto envolveu cerca de 17 doentes.

Investigações longas e fragmentadas custam caro. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz estimou que o impacto médio de um surto de Salmonella em frigoríficos de médio porte ultrapassa R$2 milhões em indenizações e perdas de mercado. Com blockchain, a origem de um lote contaminado pode ser localizada em minutos.

Reduzindo, assim, o descarte de mercadorias saudáveis e poupando empregos em regiões dependentes do agronegócio. A cadeia de supermercados Carrefour, pioneira no uso do IBM Food Trust no Brasil, ampliou em 2025 o rastreamento por blockchain para 100% da linha “Sabor & Qualidade”, que inclui carne bovina, suína, lácteos e frutas cítricas.

Relatórios internos apontam aumento de 8% nas vendas desses produtos depois que os consumidores passaram a acessar, por QR code, informações de origem, bem-estar animal e datas de abate. Isso pressiona concorrentes e fornecedores. Frigoríficos de Mato Grosso e cooperativas de laranja de São Paulo já negociam acesso ao mesmo consórcio para não perder espaço na gôndola.

No campo das hortaliças, a Paripassu, parceira da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), reportou redução de 25% no descarte de folhas verdes graças ao monitoramento de temperatura em tempo real. Os dados são gravados em blockchain e auditados pelo Programa RAMA, dando aos varejistas um painel único sobre validade e histórico de defensivos.

O que muda para o consumidor brasileiro e os próximos passos

Com o celular que você já usa para pagar contas e escanear Pix, é possível ler o código impresso na embalagem ou direto no cardápio do restaurante. Em segundos, aparecem data de colheita, análise laboratorial e distância percorrida até a cozinha. Com essa transparência, quanto mais informada a clientela, maior a vantagem competitiva de quem investe em boas práticas.

É um salto além das dicas de higiene na cozinha que explica sobre contaminação cruzada e sobre o cuidado ao reaquecer alimentos. Agora o consumidor verifica a história completa do ingrediente. Para pequenos restaurantes, soluções em nuvem cobradas por assinatura permitem registrar entradas e saídas de estoque sem investir em servidores.

A startup paulista SafeFood Chain, por exemplo, oferece pacotes que já atendem 380 estabelecimentos em oito capitais, segundo dados apresentados no Sebrae Tech Agro 2025. Embora o custo de adesão tenha caído, sensores IoT básicos custam menos de R$150, ainda há barreiras de escala e conectividade em áreas rurais.

O SDA Digital prevê integração com 4G Agro e satélites de baixa órbita para cobrir municípios sem fibra óptica até 2027. Outro ponto sensível é a padronização. Redes privadas de blockchain precisam conversar entre si para que um certificado emitido pelo produtor seja lido pelo varejista e, mais tarde, pelo fiscal da Anvisa.

O consórcio Open Food Trace, que reúne Embrapa, universidades federais e 22 empresas, está finalizando um protocolo aberto baseado em Hyperledger Fabric, com testes-piloto em lavouras de café de Minas Gerais. Ao mesmo tempo, o debate sobre privacidade ganha corpo e afeta muitos setores que estão abraçando as criptos e suas tecnologias.

Produtores querem garantir que segredos de formulação ou margens de custo não fiquem expostos no livro-razão público. Modelos híbridos, nos quais apenas o “hash” dos dados sensíveis vai para a cadeia pública enquanto o conteúdo completo fica em servidores privados criptografados, surgem como alternativa tecnicamente viável e aceita pelos reguladores.