ESPORTE
Diretor da CBF vê base sem 'diretriz' e seleções 'desconectadas do País'
Diretor de Desenvolvimento da CBF, o ex-jogador Juninho Paulista declarou nesta quinta-feira estar preocupado com o que chamou de "falta de diretriz" para a formação de jogadores no Brasil. O dirigente, que assumiu o posto este mês, disse ainda que a saída cada vez mais precoce de jogadores para atuar no exterior está fazendo com que as seleções brasileiras fiquem "desconectadas do País".
As declarações foram dadas durante um dos painéis do seminário Somos Futebol, que está sendo realizado na CBF. O ex-jogador participou de bate-papo que reuniu ainda o coordenador da seleção, Edu Gaspar, e representantes da Fifa e da Conmebol.
"Assusta quando a gente vê a seleção brasileira e muitos (torcedores) às vezes sem conhecer um ou dois jogadores. A gente não vê essa conexão com o brasileiro", comentou Juninho. "Nossas seleções estão cada vez mais desconectadas do País."
Para ele, parte do problema está na saída precoce dos atletas. Ele considera que os clubes do exterior, em especial os europeus, acabam fazendo um trabalho dentro do País muitas vezes melhor do que os próprios brasileiros.
"Acho que o maior problema está no jovem. São poucos clubes no Brasil que conseguem segurar", avaliou. "Eles (europeus) estão muito mais preparados que a gente. Tem equipes europeias identificando atletas nossos que a gente nem conhece. É uma coisa a se pensar."
Para o dirigente, outro problema está na falta de metodologia para a formação de atletas. "A gente tem que criar uma diretriz, uma metodologia. Hoje há metodologias aplicadas nos cursos (de treinador), estão cada vez melhores. Mas qual é a metodologia do futebol brasileiro?", indagou. "O Branco (coordenador de Base da CBF) falou que temos que resgatar a essência, mas o que é feito para resgatar a essência? O que estamos ensinando? Qual é nosso parâmetro? Qual é nossa diretriz? Não tem!", disparou Juninho.
O dirigente reiterou que ainda está "se inteirando" do trabalho que precisa ser feito na CBF, e não chegou a apontar soluções. Ainda assim, fez um alerta: "não é um trabalho a curto prazo. É de médio e longo prazo".
Sentado ao seu lado, o coordenador Edu Gaspar foi econômico nas palavras durante o bate-papo. Mas concordou com o colega de CBF. "Hoje nós temos na seleção brasileira 98%, 99% de jogadores que jogam na Europa. O Sampaoli (técnico do Santos, que treinou a seleção argentina) veio aqui e disse que o mesmo evento ele teve na Argentina, que ele falava ao presidente da federação que ele tinha que ter um escritório na Europa, não na Argentina", disse Edu. "Temos que atacar isso."
Por videoconferência, o secretário-geral da Fifa para o Futebol, Zvonomir Boban, aproveitou para criticar o modelo de treinamento que tem se difundido na base mundo afora. "Eu acredito que estamos massacrando os pequenos ao ensinar muitas táticas, e espero que não seja assim no Brasil", afirmou Boban, considerado um dos maiores jogadores da história do futebol croata. "Um verdadeiro talento tem que desenvolver todas as suas potencialidades. Ele tem tempo para aprender tática aos 18 ou 19 anos."