ECONOMIA

Para fugir dos juros do cartão, brasileiro ressuscita crediário

18 Mar 2019 - 14h38Por Renato Jakitas

Para fugir do rotativo do cartão ou por já estar com o limite de crédito comprometido em despesas emergenciais, a classe média tem promovido o retorno de um personagem conhecido do consumidor do passado: o crediário, modalidade de parcelamento do varejo muito popular em décadas anteriores.

Pesquisa feita pelo birô de crédito Multicrédito (antigo Telecheque), obtida pelo jornal O Estado de S. Paulo, aponta para um crescimento de 34% na utilização de boletos no últimos dois anos - 54% apenas de 2018 para 2017. A pesquisa foi realizada ao longo do ano passado com 120 mil consumidores, de 9 mil pontos de vendas do Brasil.

Segundo o vice-presidente da empresa, Flávio Peralta, esse tipo de movimento é um sinal do aperto no orçamento dos brasileiros nos últimos tempos. Já endividados no cartão ou usando o meio de pagamento como extensão do caixa ao longo do mês, a classe média busca diversificar os canais de crédito para não zerar os recursos durante o mês.

"No Brasil, o limite médio do cartão de crédito é baixo, mesmo para a classe média. Quem recebe um salário de R$ 2 mil, tem em média R$ 450 de crédito. Por isso, é preciso buscar opções", diz Peralta. Ele classifica como classe média famílias com salários de R$ 2 mil a R$ 5 mil.

O desembolso médio de quem recorreu ao crediário, segundo a Multicrédito, também está maior hoje em dia, 17% nos últimos dois anos - ou 9,3%, se descontada a inflação acumulada do período. O valor das compras saltou de R$ 463,04 em 2016 para R$ 542 no ano passado.

A advogada Sara Cristina Coraini é uma das que passou a trocar as compras de cartão de crédito pelo carnê. Há mais ou menos um ano, ela decidiu que faria todas as compras de cursos online e de lente de contato com boletos. "Decidi liberar o limite do cartão de crédito", diz ela. "Se consigo pagar à vista no boleto, tenho os descontos do crediário e o valor final fica menor que no crédito", explica.

'Conta simples'

Para a planejadora financeira e professora de economia da ESPM, Paula Sauer, o simples cálculo da diferença entre as taxas do cartão de crédito e do carnê explicam o aumento da procura pela segunda opção. "O cara pensa um pouco e vê que, se ficar devendo em um, paga quase 300%, e no outro bem menos. É lógico que ele vai para a segunda opção por segurança", diz.

O cartão de crédito tem uma das taxas mais altas do mercado, perdendo apenas para o cheque especial. Em 2019, segundo o Banco Central, a taxa de juro do cartão rotativo subiu de 285,4% ao ano em dezembro para 286,9%.

Por lei, o crediário - que não opera com recursos do mercado financeiro, mas do próprio lojista - pode cobrar 1% de multa por mês, além de, em média, 2% de juros mensais, acumulando entre juros e multas uma taxa de 42,58% ao ano.

A explicação para essa diferença entre taxas, diz o diretor de estudos e pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, envolve a inadimplência do crédito bancário. "Já faz algum tempo que a inadimplência está alta e os bancos estão bastante seletivos na concessão de crédito. Por isso também o limite baixo do cartão", destaca.

O coordenador do Laboratório de Finanças da FIA, Claudio Felisoni De Angelo, destaca outro ponto: a queda nos juros para o comerciante, que permite o varejista se capitalizar e repassar o custo menor ao comprador. "Do meio do ano passado para agora, os juros caíram quase 10% para o varejista. Ele consegue, com isso, ir até o mercado, pegar dinheiro mais barato e garantir recursos para essas linhas de crediário." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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