ECONOMIA
Juros sobem com adiamento de votação e risco de mudança no parecer da reforma
As preocupações do mercado com a reforma da Previdência no Congresso ganharam reforço nesta quarta-feira, 17, com o adiamento da votação da admissibilidade da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para a semana que vem e a sinalização negativa trazida pela disposição do relator Marcelo Freitas (PSL-MG) em alterar seu parecer. Os juros futuros de médio e longo passaram o dia em alta, também pressionados pelo avanço do dólar para perto dos R$ 3,94, enquanto os curtos ficaram estáveis.
No fim da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 passou de 6,536% na terça no ajuste para 6,540% e a do DI para janeiro de 2021 subiu de 7,102% para 7,12%. A taxa do DI para janeiro de 2023 avançou de 8,252% para 8,31%. A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou em 8,84%, de 8,762%.
O mercado na terça já contava com a possibilidade de adiamento da votação, mas como no fim da noite a CCJ encerrou a fase de discussão da proposta e marcou para esta quarta a votação, resgatou alguma expectativa. Porém, os sinais de que seria difícil votar o parecer nesta quarta-feira já eram percebidos desde manhã, dada a obstrução da oposição na CCJ para tentar a postergação, colocando as taxas em alta. A "oficialização" de que a votação foi adiada para a próxima terça-feira veio no começo da tarde, levando as taxas a ampliar o avanço.
O relator pediu mais tempo para avaliar sugestões de mudanças no parecer que, embora não sejam de mérito, vão atrasar a tramitação. Além disso, a leitura é de que a disposição em mexer no texto tão precocemente - mudanças eram esperadas apenas na comissão especial - resulta de mais uma inabilidade dos líderes governistas para evitar a desidratação do texto. Deputados do Centrão pressionam para que sejam excluídos pontos como o fim da multa do FGTS; exclusividade da Justiça Federal do Distrito Federal para julgar processos contra a União; alteração da idade para aposentadoria compulsória no Supremo Tribunal Federal; e condição para que só o Executivo faça mudanças no sistema previdenciário.
O secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, no entanto, afirmou que ainda não houve um "acordo", mas sim uma primeira conversa. "O que foi é que conversamos sobre temas. Não posso anunciar que houve avanço em um ponto ou outro, só quando houver acordo total", afirmou.
Diante da movimentação das taxas nos últimos dias, Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, vê o mercado dando peso excessivo a informações de "varejo" e deixando de olhar o "todo". "Temos de entender que é um processo e que ora haverá notícias piores ou melhores. É preciso de olhar o sistema e não ficar reagindo à informação mais recente", disse.
Nesse vaivém de notícias boas e ruins para a Previdência, as taxas curtas pouco se mexem. A despeito de várias instituições estarem alterando sua expectativa de estabilidade da Selic para corte ainda este ano, essas revisões ainda não aparecem na curva a termo, que segue precificando manutenção do patamar de 6,5%.