ECONOMIA
'Avanço da Bolsa agora depende da reforma da Previdência'
O banco digital ModalMais, do grupo Modal, que atende 490 mil clientes e tem R$ 6,5 bilhões sob custódia, conta com a aprovação da reforma da Previdência - cujo texto deve ser votado nesta semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara - para ver os investimentos na Bolsa avançarem. "A reforma vai passar. Temos uma visão construtiva para o Brasil por causa da agenda mais liberal do novo governo e por um movimento de descompressão do País depois de um longo período de aperto. Esse viés positivo não tem por que mudar", afirma o sócio-diretor do banco, Ronaldo Guimarães.
Para o executivo, se a reforma for aprovada, o Brasil pode viver o melhor dos mundos, com atividade econômica caminhando para uma melhora e juros globais baixos, o que atrai investimentos para os emergentes. Sem isso, prevê um colapso nos preços dos ativos. No sentido contrário, ele diz que o investidor brasileiro tende a aumentar o interesse por oportunidades de investimento fora do País. Veja os principais trechos da entrevista.
Os fundos de crédito privado estão crescendo bastante. Não é preocupante ver o investidor conservador nesse tipo de aplicação?
Para o investidor que está saindo de um investimento conservador como a poupança, o fundo de crédito pode não ser o melhor canal. Para esse perfil, a indicação inicial pode ser um título indexado ao CDI, como um CDB ou uma LCI, uma LCA. Outro movimento relevante que vimos foi o fluxo para fundos de debêntures incentivadas, que têm oferecido rentabilidade ligeiramente acima do CDI. A questão é que o brasileiro está muito acostumado a olhar a cota dia a dia. E o horizonte de investimento tem de ser maior. Entendemos que, pelas condições de hoje, a taxa básica de juros no Brasil vai ficar permanentemente baixa.
Por ora, nada contraria a expectativa de Selic de um dígito por muitos anos, ainda que o IPCA de março tenha surpreendido (com alta de 0,75%), é isso?
Verdade, mas não foi nada demais. Além disso, saiu o projeto de autonomia do Banco Central, o que ajuda a garantir que a instituição não será politicamente pressionada.
Qual é a avaliação de vocês sobre o andamento da reforma da Previdência?
A reforma vai passar. Temos uma visão construtiva para o Brasil por causa da agenda mais liberal do novo governo e também por um movimento de descompressão do País depois de um longo período de aperto, queda de PIB. Esse viés positivo não tem por que mudar. Mesmo no ambiente externo o sinal ficou melhor. O fato de o Fed (Federal Reserve, banco central americano) ter anunciado que iria parar de elevar juros favoreceu os emergentes, incluindo o Brasil. O BCE (Banco Central Europeu) veio na mesma linha. A previsão é que os juros, que estão negativos, vão ficar em zero. Então, hoje, estamos praticamente reféns dos nossos próprios problemas. Precisamos aprovar a reforma de qualquer maneira. Até porque não consigo fazer projeção de preços de ativos brasileiros caso a reforma não passe ou seja pífia.
Por que não é possível fazer projeções de preços?
Porque os ativos vão entrar em parafuso. As pessoas vão começar a exigir muito prêmio para comprar Brasil. Não sei o que vai acontecer com a Bolsa sem a reforma da Previdência ou mesmo para onde vai o dólar.
A ModalMais tem quantos clientes ativos na plataforma de fundos?
Na plataforma digital temos 490 mil clientes ativos. Desses, 35,5 mil investem em fundos de diversas classes - cerca de 9% estão em fundos de Bolsa. Daqui para a frente, o fluxo de recursos para fundos de ações, multimercados, para Bolsa vai depender da reforma da Previdência. Os gestores estão começando a ficar mais pessimistas.
Algum produto ou estratégia nova deve ganhar força neste ano? Alguma gestora nova que vai entrar na plataforma?
Estamos chegando muito perto do que considero o tamanho ideal da carteira. Ter mais do que 300 fundos não traz uma grande vantagem comparativa. No fim desse ano, deveremos chegar a 300 fundos e mais 40 emissores de títulos de renda fixa, o que vai significar quase 450 produtos disponíveis para os clientes. É um grande hipermercado financeiro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.