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Empreiteiro diz que relatou acerto de propinas a ex-tesoureiro e ex-assessor de Dilma em 2014

29 Jul 2016 - 11h51


Em novo depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta quinta-feira, 28, o delator e ex-presidente da holding Andrade Gutierrez Otávio Azevedo, relatou que teve quatro encontros durante o período eleitoral de 2014 com o ex-ministro e ex-tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff Edinho Silva para tratar das doações eleitorais para a petista. Nestes encontros, Otávio teria dito explicitamente que parte dos repasses da empresa ao PT estavam vinculados ao acerto de propinas da empreiteira com o ex-ministro Ricardo Berzoini em 2008 referente a todos os contratos da empresa com órgãos do governo federal.

O delator disse que ele e outros executivos da Andrade sofreram ‘muita pressão’ do assessor pessoal de Dilma na época Giles Azevedo (que teria participado de dois dos quatro encontros), além do próprio Edinho, cobrando repasses para a campanha petista e reclamando do valor das doações da empreiteira.

Otávio conta que, diante disso, tomou a iniciativa de se reunir com Edinho e João Vaccari, então tesoureiro do PT e supostamente responsável por cobrar as propinas acertadas com a Andrade Gutierrez em 2008, em São Paulo, para explicar que já vinha fazendo “doações vinculadas”.

“Qual o objetivo de eu pedir para o Vaccari ir (no encontro)? Para exatamente mostrar para o Edinho que as doações que nós tínhamos feito, de R$ 15 milhões para PT, e que uma parte disso eram doações vinculadas, e que se eu não fosse obrigado a fazer eu não tinha feito, tinha feito para (a campanha de) Dilma”, relatou. Depois deste encontro, segundo Otávio, as cobranças por doações continuaram e foram feitas ainda outras três reuniões, sendo duas no próprio comitê eleitoral de Dilma em Brasília e com a presença de Giles.

“Quis jogar com ele (Edinho) no sentido de ele entender que eu estava ali cumprindo orientação também deles próprios (PT), de 2008”, disse o empresário sobre uma das reuniões.

Em todos os encontros, a versão de Otávio é semelhante, de que houve cobranças e reclamações por parte de Edinho e Giles e ele explicou que havia já doações “vinculadas” da empreiteira e inclusive o empreiteiro disse que, em uma das ocasiões, mencionou explicitamente o caso da hidrelétrica de Belo Monte. A obra, segundo os delatores da Andrade Gutierrez teve um acerto diferente no qual as empresas que venceram a licitação pagaram 1% de propina, da qual metade teria ido para o PT e metade para o PMDB, então aliado do PT. Após todos estes encontros, relatou, a empresa acabava cedendo e fazendo doações para o PT, que segundo o executivo nunca estava satisfeito.

É a primeira vez que o delator diz em audiência ao juiz da Lava Jato, em detalhes, como o acerto de propinas com o PT foi tratado nas eleições de 2014. Ele revelou que, naquele ano, as doações ao partido vinculadas ao acerto feito em 2008 segundo o qual 1% em cada contrato da construtora com o governo federal foram “residuais” e que a maior parte das doações eleitorais naquele ano foram “espontâneas” e sem relação com o acerto ilegal.

O executivo também não deixa claro em seu depoimento se as doações “vinculadas” para o PT foram repassadas para a campanha de Dilma. Uma das práticas comuns nas eleições, quando as doações eleitorais de empresas eram permitidas, consistia em repassar as doações recebidas pelos diretórios nacionais e locais dos partidos para as campanhas dos candidatos, que têm um CNPJ próprio.

Em 2014, a Andrade Gutierrez doou R$ 21 milhões para a campanha de Dilma e R$ 20 milhões para a campanha de seu principal opositor, o tucano Aécio Neves, derrotado no segundo turno. Apesar das quantias serem próximas, em nenhum momento da audiência o executivo cita irregularidades ou mesmo pressão do PSDB por doações. Como possui foro privilegiado, eventuais irregularidades envolvendo o tucano não poderiam ter sido abordadas na audiência diante de Sérgio Moro.

‘Organização’. Em seu relato no qual esclarece alguns dos principais pontos de sua delação premiada, Otávio Azevedo ainda admitiu que a cobrança de propinas por parte do PT, acertada com o ex-ministro Ricardo Berzoini em 2008, nunca se deu de maneira organizada pelo próprio partido e que nem ele mantinha um controle disso.

Otávio também contou que, nos anos não eleitorais todas as doações da Andrade ao PT eram vinculadas ao acerto de propinas e que, nos períodos eleitorais, as doações espontâneas (sem relação com a propina, segundo ele) eram sempre maiores que as vinculadas.

Na época que os primeiros trechos da delação de Otávio Azevedo vieram à tona, o então ministro Edinho Silva afirmou que as citações a ele e à propina na campanha de Dilma eram mentira e que nunca participou de conversas em que a palavra propina foi citada.

“Jamais falei em propina com o presidente da Andrade Gutierrez”, defendeu-se Edinho, acrescentando que “a campanha da presidente Dilma arrecadou de forma legítima em 2014” e que “as contas de campanha de Dilma foram aprovadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”.

Ricardo Berzoini nega ilícitos. Citado por outro executivo da Andrade Gutierrez, o ex-presidente do PT disse que ‘não é verdade’ que tenha pedido contribuição de 1% sobre o valor dos contratos da empreiteira com a administração federal.

João Vaccari Neto, preso desde abril de 2015 na Lava Jato, nega ter solicitado recursos ilícitos. Por meio de seu defensor, o criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, o ex-tesoureiro do PT rechaça as suspeitas de arrecadação ilegal de valores. “As denúncias são de delatores, portanto, não têm validade”, afirma D’Urso.

A Andrade não comenta investigações em andamento e a reportagem não conseguiu localizar Giles Azevedo para comentar o caso. A reportagem também tentou contato telefônico com o coordenador jurídico da campanha de Dilma em 2014 Flávio Caetano, mas o celular caiu na caixa postal. Informações são do jornal O Estado de São Paulo.


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